O Livro Terra Papagalli é
também uma crítica à forma de se
viver no Brasil de hoje, assim como,
enfatizando os “10 mandamentos para o bem
viver na Terra dos Papagaios", também é
escrito em linguagem do século XVI
com tom jocoso, onde os autores mesclaram
formatos literários da época, como diários
de navegação e dicionários.. Um dos pontos mais
singulares e seminais da experiência intelectual de Michel Foucault é sua
crítica desenvolvida à figura do homem. Há praticamente quarenta e cinco anos,
dizia o pensador francês que “o homem é uma invenção cuja arqueologia do nosso
pensamento mostra facilmente a data recente. E talvez o fim próximo pode-se
apostar que o homem se dissolverá como um rosto de areia na borda do mar” . É
certo também que essa crítica ao humanismo apareça, com as mais diversas formas
e nuances, em toda uma tradição do pensamento francês contemporâneo (Deleuze,
Derrida) e mesmo na primeira geração dos ditos frankfurtianos (principalmente
em Horkheimer e Adorno). O ponto que gostaríamos de retomar é exatamente a
peculiaridade da crítica foucaultiana ao humanismo, lendo sua análise como
movimento fundamental e necessário para uma crítica sistemática à razão
moderna. Para tanto, é necessário que abordemos tal projeto a partir das
diferentes formas que ela ganha na obra foucaultiana. Privilegiaremos dois
momentos de seu percurso crítico: sua arqueologia do saber, com o diagnóstico
da confusão entre o empírico e transcendental articulado a partir da filosofia
kantiana, e a crítica do esgotamento da filosofia da consciência como
fundamento dos saberes; sua análise genealógica dos dispositivos disciplinares
e de governo (liberalismo). Com isso, buscamos demonstrar todo potencial
crítico de sua recusa ao humanismo, recusa que visa abrir novas frestas e
caminhos para que, liberados da imagem do homem e do horizonte normativo
imposto por essa imagem, possamos articular pensamento e ação de uma nova
forma. Autonomia, autenticidade e unidade Antes, porém, de partirmos para a
análise da crítica ao humanismo em Foucault, é necessário que refaçamos a
figura desse homem que agoniza no horizonte de nosso tempo. De forma
esquemática, podemos definir o conceito de humano, tal como postulado pela
modernidade, a partir de três categorias centrais: autonomia, autenticidade e
unidade. A autonomia traz em seu bojo uma convergência de conceitos herdados
tanto da tradição protestante quanto de sua sistematização através dos esforços
da filosofia moral. Ela está vinculada diretamente à ideia de que os sujeitos
são capazes de se autodeterminarem a partir de sua própria vontade, colocando
para si mesmos a sua própria Lei. A figura de uma lei posta através de uma
vontade que ignora tudo que lhe é externo e, por isso, alça-se para além do
campo contingente do fenômeno, está diretamente relacionada à capacidade de
julgar meus próprios atos, ou seja, de instalar um “tribunal mental”
no campo seguro de minha interioridade, lugar esse onde tomo distância de todas
as inclinações do sensível e exerço minha autonomia.

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