segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Análise Crítica - Primeira Parte

O Livro Terra Papagalli é  também  uma crítica  à  forma  de  se  viver  no  Brasil  de  hoje,  assim  como, enfatizando  os  “10  mandamentos  para  o  bem  viver  na  Terra  dos Papagaios", também é  escrito  em  linguagem  do  século  XVI  com  tom jocoso,  onde  os  autores  mesclaram  formatos  literários  da  época, como  diários  de  navegação  e  dicionários.. Um dos pontos mais singulares e seminais da experiência intelectual de Michel Foucault é sua crítica desenvolvida à figura do homem. Há praticamente quarenta e cinco anos, dizia o pensador francês que “o homem é uma invenção cuja arqueologia do nosso pensamento mostra facilmente a data recente. E talvez o fim próximo pode-se apostar que o homem se dissolverá como um rosto de areia na borda do mar” . É certo também que essa crítica ao humanismo apareça, com as mais diversas formas e nuances, em toda uma tradição do pensamento francês contemporâneo (Deleuze, Derrida) e mesmo na primeira geração dos ditos frankfurtianos (principalmente em Horkheimer e Adorno). O ponto que gostaríamos de retomar é exatamente a peculiaridade da crítica foucaultiana ao humanismo, lendo sua análise como movimento fundamental e necessário para uma crítica sistemática à razão moderna. Para tanto, é necessário que abordemos tal projeto a partir das diferentes formas que ela ganha na obra foucaultiana. Privilegiaremos dois momentos de seu percurso crítico: sua arqueologia do saber, com o diagnóstico da confusão entre o empírico e transcendental articulado a partir da filosofia kantiana, e a crítica do esgotamento da filosofia da consciência como fundamento dos saberes; sua análise genealógica dos dispositivos disciplinares e de governo (liberalismo). Com isso, buscamos demonstrar todo potencial crítico de sua recusa ao humanismo, recusa que visa abrir novas frestas e caminhos para que, liberados da imagem do homem e do horizonte normativo imposto por essa imagem, possamos articular pensamento e ação de uma nova forma. Autonomia, autenticidade e unidade Antes, porém, de partirmos para a análise da crítica ao humanismo em Foucault, é necessário que refaçamos a figura desse homem que agoniza no horizonte de nosso tempo. De forma esquemática, podemos definir o conceito de humano, tal como postulado pela modernidade, a partir de três categorias centrais: autonomia, autenticidade e unidade. A autonomia traz em seu bojo uma convergência de conceitos herdados tanto da tradição protestante quanto de sua sistematização através dos esforços da filosofia moral. Ela está vinculada diretamente à ideia de que os sujeitos são capazes de se autodeterminarem a partir de sua própria vontade, colocando para si mesmos a sua própria Lei. A figura de uma lei posta através de uma vontade que ignora tudo que lhe é externo e, por isso, alça-se para além do campo contingente do fenômeno, está diretamente relacionada à capacidade de julgar meus próprios atos, ou seja, de instalar um “tribunal mental” no campo seguro de minha interioridade, lugar esse onde tomo distância de todas as inclinações do sensível e exerço minha autonomia.

(José Roberto Torero)


Nenhum comentário:

Postar um comentário