O
interessante dessa descrição da figura do humano é seu parentesco com a ideia
teológica de Deus. Ideia essa que, se aparentemente saiu de cena a partir da
modernidade, continuou, sub-repticiamente, a ditar o horizonte da normatividade
humana: a autonomia indica a capacidade de se determinar plenamente, para além
de qualquer jogo de forças exteriores, em outras palavras, ser causa de si
mesmo; autenticidade conjuga a qualidade tomistaaristotélica fundamental de
Deus, a saber, a não distância entre ato e potência do ser infinitamente
perfeito (sua onipotência e onisciência); por fim a identidade garante que o
ser seja absolutamente idêntico a si mesmo na multiplicidade do contingente
(transcendência em relação ao mundo). Quando visto por esse ângulo, podemos
suspeitar se o humanismo de forma astuta, ou inconsciente, não busca perpetuar
um certo projeto teológico-político tão bem conhecido, desde sempre, pela nossa
história ocidental. Nesse sentido, a crítica do humanismo pode ser compreendida
por dois ângulos: primeiro, como uma crítica a um projeto normativo que retira
suas categorias de um desgastado e descontextualizado plano teológico; em
segundo lugar, como a desconstrução de uma estrutura que acabou por bloquear o
projeto moderno, momento histórico marcado, em sua não concretização, por uma
mistificação do esclarecimento e do ideal normativo de emancipação.
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